Texto: manolo
Fotos: marcas
Uma multinacional ligada à embalagem encomendou-me um trabalho escrito sobre os produtos que devem às embalagens as suas identidades e a aceitação universal. Reconheço que foi um trabalho duro e que, a princípio, não me entusiasmou muito, sobretudo porque o estudo abrangeu mais de 250 marcas; mas depois entusiasmei-me e, como disse Fernando Pessoa num slogan que criou, precisamente para a Coca-Cola, e que nunca viria a ser utilizado: «primeiro estranha-se, depois entranha-se», fiz o trabalho com grande prazer.
Fotos: marcas
Uma multinacional ligada à embalagem encomendou-me um trabalho escrito sobre os produtos que devem às embalagens as suas identidades e a aceitação universal. Reconheço que foi um trabalho duro e que, a princípio, não me entusiasmou muito, sobretudo porque o estudo abrangeu mais de 250 marcas; mas depois entusiasmei-me e, como disse Fernando Pessoa num slogan que criou, precisamente para a Coca-Cola, e que nunca viria a ser utilizado: «primeiro estranha-se, depois entranha-se», fiz o trabalho com grande prazer.
Enquanto passo, confesso,
por um período um bloqueio criativo, tal como acontece com o protagonista do
livro «A Mão Morta – Um crime em Calcutá», de Paul Theroux, um livro que
recomendo e que apresenta uma plêiade de personagens ricamente desenhadas num
caso de difícil resolução. Trata-se de um fresco da Índia moderna sob a forma
de um «thriller», um devaneio erótico
e uma reflexão sobre a idade e a perda de energia criativa.
Enquanto passo, dizia eu,
por um bloqueio criativo nesta floresta urbana de alheamento, talvez pelo
excesso de discussão e de preocupação com temas técnicos ou pelas vicissitudes
do dia-a-dia vida (mas temos que ganhar a vida, não é verdade?), não quis
deixar de partilhar com os meus amigos algumas curiosidades retiradas desse
estudo que fiz sobre algumas das marcas mais conhecidas que, de uma forma ou de
outra, povoam o nosso subconsciente, e isto sem que tenha a veleidade de entrar
em explicações de tipo psicanalítico.
Coca-Cola
Criada em 1886 por um
farmacêutico e comercializada inicialmente como um produto medicinal, só passou
a vender-se como refresco a partir de 1894, numa garrafa recta e muito fácil de
imitar. Em 1915 a marca decidiu diferenciar-se com um novo design. A Root-Glass,
empresa a quem foi entregue o trabalho, procurou inspiração nos ingredientes do
refresco, porém, confundiu a coca com o cacau. Sem dar pelo erro, desenhou uma
garrafa aflautada, em forma de grão de cacau e a empresa aceitou o protótipo. A
embalagem mais famosa do mundo, a garrafa «contour», foi então, a partir daí,
redesenhada várias vezes: hoje é uma referência no mundo do design, merecendo,
por isso, grande destaque no Museu de Arte Moderna de Nova York.
Absolut
Vodka
Ahus, uma pequena aldeia no
sul da Suécia, é o ponto de origem de uma das vodkas mais vendidas do mundo. Lars
Olsson Smith começou a comercializá-la a partir de
1879 e a agência Carlsson and Broman propôs uma solução inovadora: uma garrafa
transparente, sem etiqueta, e com as letras gravadas para se poder ver através
delas, igual às garrafas de jarabe medicinal da época. O designer diferenciou a
garrafa ainda com uns toques prateados e a foto do fundador. Assim nascia um
dos grandes desenhos da história, que conheceria o verdadeiro êxito a partir de
1980. Em 1985, Andy Warhol pediu para personalizar uma garrafa da «Absolut
Vodka» e, atrás dele, centenas de artistas desenharam anúncios para a marca.
Toblerone
O chocolate suíço
mundialmente conhecido pela sua forma de prisma com base triangular foi criado
em Berna por Theodor Tobler e seu primo Emil Baumann e começou a
comercializar-se em 1908. Diversas lendas tentam explicar a sua origem, embora
exista uma que sustenta que a forma do chocolate reproduz o monte Matterhorn,
nos Alpes suíços; outra teoria defende que Tobler se inspirou nas bailarinas do
Folies Bergere, de Paris, alinhadas em forma de pirâmide; uma terceira hipótese
assegura que o chocolateiro elegeu a pirâmide como símbolo maçónico. Com os
anos a sua embalagem exibiu águias, ursos e bandeiras mas nunca perdeu a forma
de prisma que a converteu num caso único de sucesso.
Chanel n.º 5
A sua embalagem e aroma
converteram-no no perfume mais famoso da história, imortalizado por Marilyn
Monroe quando disse: «Para dormir, só me visto com duas gotas de Chanel n.º 5».
A sua história remonta ao ano de 1920 quando Coco Chanel, de férias para na Côte
d’Azur, ouviu falar de um perfumista, Ernest Beaux. Da conversa que tiveram
resultou uma encomenda de uma nova fragrância, tendo Beaux criado 10 amostras de
que ela escolheu apenas 5. Após verificar o êxito do perfume, ela mesmo se
encarregaria de criar uma embalagem intemporal que reflectiria a sóbria
elegância de «Chanel n.º 5».
Marlboro
Em 1924 Philip Morris
criou a marca «Marlboro» a partir do nome da rua de Nova Jersey onde tinha a
sua fábrica. Tratava-se de cigarros com filtro, originalmente para um público
feminino, pelo que até 1954 a empresa nunca dirigiu a sua publicidade para o
publico masculino. Foi a campanha idealizada por Leo Burnett e protagonizada
por um «cowboy», com o seu cavalo e o seu cigarrito ao canto da boca, que
popularizaria a marca e a levaria à posição de líder de vendas, convertendo o
seu logótipo num dos mais reconhecidos internacionalmente. O clássico maço
encarnado e branco foi uma das embalagens mais conhecidas e universais do
século XX. Já agora, se fuma, deixe-se disso.
Campari
Gaspare Campari inventou,
em 1860, um novo licor chamado «Rosa Campari». Uma infusão de ervas, plantas
aromáticas e frutas maceradas em álcool e água. Continuava assim uma tradição
herdada dos monges europeus do século XVI, que fabricavam infusões para purgar
o corpo e a alma, diziam eles. A bebida foi lançada comercialmente no café
Campari, em Milão, propriedade do criador do aperitivo. Com os anos tornou-se
uma das bebidas mais conhecidas do século XX, mais famosa mundialmente do que o
«Martini», graças, em parte, aos cartazes publicitários de Marcello Nizzolli e
à forma da garrafa, uma obra do escultor futurista Fortunato Depero, criada em
1932.
Jack Daniel’s
Jack Daniel aperfeiçoou a
elaboração do whisky em 1866 mediante o processo de suavização com carvão
vegetal, uma inovação que outorgaria à sua marca uma suavidade e um paladar
incomparáveis. Em 1904 denominou-o «Whisky Tenessee Old No. 7» e usou uma
garrafa quadrada e um rótulo preto. Na feira mundial do Missouri foi galardoado
com a medalha de ouro e considerado o melhor whisky do mundo (opiniões não se
discutem). Desde então o rótulo do Jack Daniel’s conservou sempre o seu famoso
número 7, que alguns atribuem à sétima fórmula e outros a uma simples anotação
do chefe do armazém.
Heineken
A história da Heineken
remonta a 1592, quando a viúva de um cervejeiro holandês decidiu abrir a
cervejaria Haystack, no coração de Amesterdão. Trezentos anos depois, Gerard
Adriaan Heineken, de 22 anos, comprava o estabelecimento e começava a vender a
sua cerveja do tipo Pilsen. Em 1884 registou a marca Heineken com o seu rótulo
verde e encarregou um laboratório de estudar a fórmula perfeita. A equipa de
investigadores descobriu assim a levedura A, um marco importante na história da
cerveja. Com a lei seca a «Heineken» passou a ser a cerveja de importação mais
consumida nos Estados Unidos, tendo, nesse momento, sido introduzida a famosa
garrafa verde.
Lucky Strike
Decorria o ano de 1871 quando
o doutor R. A. Patterson, da Virginia, criou a sua empresa de tabaco para
mascar, tendo pensado que seria uma boa ideia associá-la aos prospectores de
ouro californianos. Por isso decidiu chamar-lhe «Lucky Strike», o «golpe de
sorte». Em 1905 a American Tobacco Company adquiriu a companhia de Patterson e,
em 1926, apresentou o «Lucky Strike» com uma nova embalagem: uma caixa verde de
cigarros sem filtro. Anos mais tarde o famoso desenhador industrial Raymond
Loewy mudou a antiga imagem da embalagem, redesenhando o logótipo, tendo a mesma
passado a ser completamente branca. O seu objectivo era reduzir custos,
modernizar a etiqueta e torná-la mais atractiva entre as mulheres fumadoras.