sábado, 2 de junho de 2012

Algumas das embalagens mais famosas do mundo


Texto: manolo
Fotos: marcas


Uma multinacional ligada à embalagem encomendou-me um trabalho escrito sobre os produtos que devem às embalagens as suas identidades e a aceitação universal. Reconheço que foi um trabalho duro e que, a princípio, não me entusiasmou muito, sobretudo porque o estudo abrangeu mais de 250 marcas; mas depois entusiasmei-me e, como disse Fernando Pessoa num slogan que criou, precisamente para a Coca-Cola, e que nunca viria a ser utilizado: «primeiro estranha-se, depois entranha-se», fiz o trabalho com grande prazer.
Enquanto passo, confesso, por um período um bloqueio criativo, tal como acontece com o protagonista do livro «A Mão Morta – Um crime em Calcutá», de Paul Theroux, um livro que recomendo e que apresenta uma plêiade de personagens ricamente desenhadas num caso de difícil resolução. Trata-se de um fresco da Índia moderna sob a forma de um «thriller», um devaneio erótico e uma reflexão sobre a idade e a perda de energia criativa.
Enquanto passo, dizia eu, por um bloqueio criativo nesta floresta urbana de alheamento, talvez pelo excesso de discussão e de preocupação com temas técnicos ou pelas vicissitudes do dia-a-dia vida (mas temos que ganhar a vida, não é verdade?), não quis deixar de partilhar com os meus amigos algumas curiosidades retiradas desse estudo que fiz sobre algumas das marcas mais conhecidas que, de uma forma ou de outra, povoam o nosso subconsciente, e isto sem que tenha a veleidade de entrar em explicações de tipo psicanalítico.




Coca-Cola

Criada em 1886 por um farmacêutico e comercializada inicialmente como um produto medicinal, só passou a vender-se como refresco a partir de 1894, numa garrafa recta e muito fácil de imitar. Em 1915 a marca decidiu diferenciar-se com um novo design. A Root-Glass, empresa a quem foi entregue o trabalho, procurou inspiração nos ingredientes do refresco, porém, confundiu a coca com o cacau. Sem dar pelo erro, desenhou uma garrafa aflautada, em forma de grão de cacau e a empresa aceitou o protótipo. A embalagem mais famosa do mundo, a garrafa «contour», foi então, a partir daí, redesenhada várias vezes: hoje é uma referência no mundo do design, merecendo, por isso, grande destaque no Museu de Arte Moderna de Nova York.



Absolut Vodka

Ahus, uma pequena aldeia no sul da Suécia, é o ponto de origem de uma das vodkas mais vendidas do mundo. Lars Olsson Smith começou a comercializá-la a partir de 1879 e a agência Carlsson and Broman propôs uma solução inovadora: uma garrafa transparente, sem etiqueta, e com as letras gravadas para se poder ver através delas, igual às garrafas de jarabe medicinal da época. O designer diferenciou a garrafa ainda com uns toques prateados e a foto do fundador. Assim nascia um dos grandes desenhos da história, que conheceria o verdadeiro êxito a partir de 1980. Em 1985, Andy Warhol pediu para personalizar uma garrafa da «Absolut Vodka» e, atrás dele, centenas de artistas desenharam anúncios para a marca.



Toblerone

O chocolate suíço mundialmente conhecido pela sua forma de prisma com base triangular foi criado em Berna por Theodor Tobler e seu primo Emil Baumann e começou a comercializar-se em 1908. Diversas lendas tentam explicar a sua origem, embora exista uma que sustenta que a forma do chocolate reproduz o monte Matterhorn, nos Alpes suíços; outra teoria defende que Tobler se inspirou nas bailarinas do Folies Bergere, de Paris, alinhadas em forma de pirâmide; uma terceira hipótese assegura que o chocolateiro elegeu a pirâmide como símbolo maçónico. Com os anos a sua embalagem exibiu águias, ursos e bandeiras mas nunca perdeu a forma de prisma que a converteu num caso único de sucesso.


Chanel n.º 5

A sua embalagem e aroma converteram-no no perfume mais famoso da história, imortalizado por Marilyn Monroe quando disse: «Para dormir, só me visto com duas gotas de Chanel n.º 5». A sua história remonta ao ano de 1920 quando Coco Chanel, de férias para na Côte d’Azur, ouviu falar de um perfumista, Ernest Beaux. Da conversa que tiveram resultou uma encomenda de uma nova fragrância, tendo Beaux criado 10 amostras de que ela escolheu apenas 5. Após verificar o êxito do perfume, ela mesmo se encarregaria de criar uma embalagem intemporal que reflectiria a sóbria elegância de «Chanel n.º 5».



Marlboro

Em 1924 Philip Morris criou a marca «Marlboro» a partir do nome da rua de Nova Jersey onde tinha a sua fábrica. Tratava-se de cigarros com filtro, originalmente para um público feminino, pelo que até 1954 a empresa nunca dirigiu a sua publicidade para o publico masculino. Foi a campanha idealizada por Leo Burnett e protagonizada por um «cowboy», com o seu cavalo e o seu cigarrito ao canto da boca, que popularizaria a marca e a levaria à posição de líder de vendas, convertendo o seu logótipo num dos mais reconhecidos internacionalmente. O clássico maço encarnado e branco foi uma das embalagens mais conhecidas e universais do século XX. Já agora, se fuma, deixe-se disso.



Campari

Gaspare Campari inventou, em 1860, um novo licor chamado «Rosa Campari». Uma infusão de ervas, plantas aromáticas e frutas maceradas em álcool e água. Continuava assim uma tradição herdada dos monges europeus do século XVI, que fabricavam infusões para purgar o corpo e a alma, diziam eles. A bebida foi lançada comercialmente no café Campari, em Milão, propriedade do criador do aperitivo. Com os anos tornou-se uma das bebidas mais conhecidas do século XX, mais famosa mundialmente do que o «Martini», graças, em parte, aos cartazes publicitários de Marcello Nizzolli e à forma da garrafa, uma obra do escultor futurista Fortunato Depero, criada em 1932.




Jack Daniel’s


Jack Daniel aperfeiçoou a elaboração do whisky em 1866 mediante o processo de suavização com carvão vegetal, uma inovação que outorgaria à sua marca uma suavidade e um paladar incomparáveis. Em 1904 denominou-o «Whisky Tenessee Old No. 7» e usou uma garrafa quadrada e um rótulo preto. Na feira mundial do Missouri foi galardoado com a medalha de ouro e considerado o melhor whisky do mundo (opiniões não se discutem). Desde então o rótulo do Jack Daniel’s conservou sempre o seu famoso número 7, que alguns atribuem à sétima fórmula e outros a uma simples anotação do chefe do armazém.



Heineken

A história da Heineken remonta a 1592, quando a viúva de um cervejeiro holandês decidiu abrir a cervejaria Haystack, no coração de Amesterdão. Trezentos anos depois, Gerard Adriaan Heineken, de 22 anos, comprava o estabelecimento e começava a vender a sua cerveja do tipo Pilsen. Em 1884 registou a marca Heineken com o seu rótulo verde e encarregou um laboratório de estudar a fórmula perfeita. A equipa de investigadores descobriu assim a levedura A, um marco importante na história da cerveja. Com a lei seca a «Heineken» passou a ser a cerveja de importação mais consumida nos Estados Unidos, tendo, nesse momento, sido introduzida a famosa garrafa verde.




Lucky Strike

Decorria o ano de 1871 quando o doutor R. A. Patterson, da Virginia, criou a sua empresa de tabaco para mascar, tendo pensado que seria uma boa ideia associá-la aos prospectores de ouro californianos. Por isso decidiu chamar-lhe «Lucky Strike», o «golpe de sorte». Em 1905 a American Tobacco Company adquiriu a companhia de Patterson e, em 1926, apresentou o «Lucky Strike» com uma nova embalagem: uma caixa verde de cigarros sem filtro. Anos mais tarde o famoso desenhador industrial Raymond Loewy mudou a antiga imagem da embalagem, redesenhando o logótipo, tendo a mesma passado a ser completamente branca. O seu objectivo era reduzir custos, modernizar a etiqueta e torná-la mais atractiva entre as mulheres fumadoras.