Texto e fotos: Manolo
Olá amigão.
Já estou há dois dias em Zouérat. Eu sei, eu sei...estive alguns dias sem dar noticias, mas não te preocupes, estou protegida pelo meu anjo Gabriel, o meu anjo-da-guarda. Lembras-te de Sarajevo? Andei quase 15 dias sem poder dar noticias.Aqui já passa da meia-noite, está imenso calor e um luar enorme que parece eterno. Zouérat é uma pequena cidade mineira e todos, mas mesmo todos, já sabem que cá estou. Agora, enquanto te envio este e-mail, neste pequeno alpendre, sou vista pelos habitantes locais, provavelmente, como uma ave de arribação. Ao principio, confesso, era uma situação constrangedora, mas agora retribuo com um sorriso, são simpáticos.Finalmente, amanhã de manhã cedo, encontro-me com Heiba Salama, o guia que me levará por entre terras de ninguém até aos territórios do povo sarauí. Estou com esperança de conseguir uma entrevista com um dos seus líderes. Com um pouco de sorte, dentro de dois ou três dias envio-te uma peça daquelas que tu gostas, e claro, para calar o «boss» por causa dos custos, não é? Por falar no «manda-chuva», continua zangado com o mundo ou faz intervalos de vez em quando? Claro, só pode ser assim. Realmente, só tu tens pachorra para o aturar. Mas não é nada disto que te queria falar. Se estou a roubar tempo ao sono, e enquanto te escrevo já vou no quarto chá de menta, é porque te quero contar uma coisa fabulosa que se passou comigo ontem à noite.
Já estou há dois dias em Zouérat. Eu sei, eu sei...estive alguns dias sem dar noticias, mas não te preocupes, estou protegida pelo meu anjo Gabriel, o meu anjo-da-guarda. Lembras-te de Sarajevo? Andei quase 15 dias sem poder dar noticias.Aqui já passa da meia-noite, está imenso calor e um luar enorme que parece eterno. Zouérat é uma pequena cidade mineira e todos, mas mesmo todos, já sabem que cá estou. Agora, enquanto te envio este e-mail, neste pequeno alpendre, sou vista pelos habitantes locais, provavelmente, como uma ave de arribação. Ao principio, confesso, era uma situação constrangedora, mas agora retribuo com um sorriso, são simpáticos.Finalmente, amanhã de manhã cedo, encontro-me com Heiba Salama, o guia que me levará por entre terras de ninguém até aos territórios do povo sarauí. Estou com esperança de conseguir uma entrevista com um dos seus líderes. Com um pouco de sorte, dentro de dois ou três dias envio-te uma peça daquelas que tu gostas, e claro, para calar o «boss» por causa dos custos, não é? Por falar no «manda-chuva», continua zangado com o mundo ou faz intervalos de vez em quando? Claro, só pode ser assim. Realmente, só tu tens pachorra para o aturar. Mas não é nada disto que te queria falar. Se estou a roubar tempo ao sono, e enquanto te escrevo já vou no quarto chá de menta, é porque te quero contar uma coisa fabulosa que se passou comigo ontem à noite.
Depois do jantar fui dar
uma volta pela cidade ( aqui não se consegue adormecer antes das duas da
manhã), contemplava o pouco que há em meu redor e pensava: aqui dá-se
importância às pequenas coisas da vida, coisas que no nosso mundo ocidental nos
passam completamente despercebidas. Coisas simples, muito simples, e estava eu
a reflectir nisto, quando à minha frente surgiu um miudo , talvez com
dezasseis, dezassete anos, alto, com uma túnica branca como a neve e um chech a
cobrir-lhe a cabeça, donde faiscavam uns olhos verdes (Meu Deus, que olhos) que
me perguntou, num francês doce, se podia saber o meu nome. Fiquei paralisada,
mais pela surpresa do que pela candura - imagina a cena - sem deixar de me
olhar com aquelas duas esmeraldas hipnotizadoras, aqueles dois oceanos; de
seguida retorquiu: - é secreto?- Secreto? Por que raio o
meu nome havia de ser secreto? Imaginei logo que fosse para os apanhados: o
«Apolo imberbe» e a quarentona. - Laura. Respondi-lhe de forma neutra, mas
ansiosa por uma resposta. - Laauuraa...Repetiu o meu nome de tal forma, com um
glamour tão intenso que só pude baixar os olhos. Nos segundos que se seguiram
reuni de emergência com a minha consciência. Estava feliz, naquele momento era
feliz, mesmo sabendo que ali estava porque o exército marroquino atacara o povo
sarauí com gás napalm e fósforo branco na malfadada «marcha verde».
Aqueles olhos verdes
mostravam tanta atitude, que não consegui negar-me a passear com ele pela
cidade. Era já suficientemente «adulto» para não me acusarem de pedofilia, por
outro lado, ainda era bastante jovem para que se pensasse numa «aventura» com o
rapaz. Provavelmente a sua mãe não gostaria que uma quarentona sem escrúpulos
lhe levasse o filho para a cama. Uma mulher que podia ser sua mãe! Bolas, mas o
rapaz tinha direito a esta experiência de vida e eu também.
Cada vez parecia estar mais
calor, e a cada segundo que passava aumentava o meu desassossego. Sabes como
por vezes sou tão indecisa, imagina como me sentia. Há coisas nem sempre fáceis
na vida e, seduzir um jovem, talvez inexperiente, é uma delas; mas por outro
lado, qualquer mulher, mesmo uma esquerdista como eu, gosta de ser tratada como
uma princesa.
Convidou-me para passear
pelas dunas de jipe, sabes, num daqueles clássicos que tu me costumas falar.
Toyota? Land Rover? Não sei, mas ele conduzia com estilo. Navegava naquele mar
de areia com suavidade, enquanto o luar nos banhava como se fossem holofotes da
ribalta. Aqueles olhos verdes, aquele «Adónis», pelo menos por uma noite, era o
homem dos meus sonhos. Se este rapaz queria o meu corpo, já há muito que era
dele. Parou o jipe, pegou-me na mão, o resto não te conto...
Amigão estou feliz. Dentro
de dias dou noticias. Quando chegar vamos àquele restaurante do Bairro Alto, ai
como é que se chama? Depois dizes-me. Obrigado pela tua amizade. Laura.
Um dia depois chegou à
nossa redacção, o seguinte e-mail:
COMUNICADO
Na manhã de hoje sairam de Zouérat dois jipes do exército mauritano, comandados pelo Tenente Moussa Ibraim, num patrulhamento de rotina. Junto ao caminho-de-ferro, perto da passagem de nível, encontraram um jipe alvo de um ataque e parcialmente destruído. Dentro do veículo encontrou-se o cadáver de um homem chamado Heiba Salama, reconhecido guia da Frente Polisário. A uns metros de distãncia, no chão, o cadáver de uma mulher com passaporte português e carteira de jornalista, de nome Laura Amares Machado. Os cadáveres e alguns objectos pessoais foram trasladados para o aquartelamento da companhia de Zouérat, até se receberem instruções precisas do batalhão.
Esta história: Realidade ou ficção?
ResponderExcluirNuma verdade há sempre um pouco de ficção e vice-versa.
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